sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Bom de Voto e Muito Mais

Na semana passada, li com surpresa e preocupação o texto de um apoiador da pré-candidata Maria do Rosário no qual havia um objetivo claro: demonstrar que Miguel Rossetto é ruim de voto. E aí começou um festival de comparações entre as votações de Rossetto ao senado em 2006 e as votações de outros candidatos do PT ao Senado em outras eleições. As comparações chegaram às raias do absurdo: comparou-se as votações de Rossetto, Lula e Olívio em 2006 e, inclusive, comparou-se a votação de Rossetto a deputado federal com a votação de Rosário a vereadora de Porto Alegre. E, é claro, depois de tanto contorcionismo chega-se a uma conclusão cristalina: se o debate for por aí, o PT já perdeu.Tenho um profundo respeito pela companheira Maria do Rosário e, por isto, acho que é ruim para sua campanha interna a divulgação de material tão desprovido de inteligência, tão sectário e destrutivo. Pelos critérios do companheiro Márcio T. dos Santos – autor do texto contra Rossetto – eu poderia fazer o seguinte raciocínio:Rosário fez quase 144 mil votos para deputada federal em 2002 e caiu para 110 mil em 2006,Rosário fez 68 mil votos para deputada federal em Porto Alegre em 2002 e somente 43 mil em 2006Na eleição de 2006, para deputado federal Rosário fez menos votos que Luciana Genro (185 mil votos X 110 mil votos) e menos ainda que Manuela (271 mil votos X 110 mil votos)Rosário fez muito menos votos em Porto Alegre do que as duas deputadas federais citadas.Os raciocínios são diferentes: neste aqui apresentado compara-se Rosário consigo mesma e com possíveis adversárias no pleito de 2008. Diferentemente do companheiro Márcio, entretanto, chego a conclusões completamente distintas. Por um simples motivo: não é possível nem mesmo correto comparar resultados eleitorais sem a devida contextualização histórica. Numa mirada afobada e acrítica poderíamos dizer que a votação de Rosário é declinante e que num curto espaço de 4 anos ela perdeu um em cada três eleitores de Porto Alegre.
Dizer isto, entretanto, é um grave absurdo.Porque não é possível analisar a votação de Rosário e do conjunto do PT sem levar em conta o mensalão, o “dólar na cueca”, o Silvinho Land Rover e a vergonhosa dupla Delúbio-Marcos Valério que tanto deixaram “pedaços de morte no coração” dos petistas quanto corroeram nossos resultados eleitorais no sudeste e sul do país. Não é possível esquecer o massacre midiático imposto ao governo Lula e, em especial, ao PT e seus candidatos.Portanto, quanto à eleição ao Senado em 2006 arrisco ressaltar dois aspectos: a coragem de Rossetto em enfrentar o “santo” reencarnado em forma de político Pedro Simon e o resultado de Porto Alegre, onde houve um empate técnico entre os dois candidatos. De fato, Rossetto é bom de voto e muito mais: é corajoso, capaz, lúcido e extremamente preparado. Talvez aí residam alguns critérios para a nossa escolha de março próximo: o perfil, a trajetória, a experiência, o desprendimento, a coragem e a capacidade administrativa de cada um dos candidatos.Rossetto foi um dirigente sindical respeitadíssimo e membro da Executiva Nacional da CUT. Foi convocado para o embate no Congresso Nacional e, na sua primeira eleição a deputado federal em 1994, obteve sucesso. Depois, em 98, quando poderia obter uma votação consagradora na reeleição como deputado foi convocado para a dura tarefa de ser vice na chapa do companheiro Olívio quando todas as pesquisas indicavam que Britto seria reeleito governador. Mais uma vez foi vitorioso. Foi candidato a vice na chapa de Tarso ao governo em 2002 e depois convocado pelo presidente Lula para ser Ministro do Desenvolvimento Agrário. Rossetto nunca escolheu o caminho mais fácil ou seguro. Mas construiu uma trajetória de respeito, diálogo e competência que é reconhecida por todos. Ou quase todos.O PT vai se deparar com uma eleição duríssima. Nenhum candidato nosso terá o caráter de novidade de uma eventual candidatura de Manuela. Nenhum dos nossos candidatos fará o discurso esquerdista – que tanto espaço tem em Porto Alegre – como o fará Luciana Genro. Isto somente para ficarmos no espectro de esquerda. Portanto, para que possamos voltar a dialogar de forma inteligente e fundamentada com toda a cidade, para que possamos voltar a disputar corações e mentes será necessária uma candidatura extremamente qualificada, com uma biografia irretocável e que não sofra nunca a tentação do debate simplificado e rasteiro como o apresentado no texto do companheiro que apóia Rosário.
Espero que em 2008 ao menos não percamos para nós mesmos.
Saudações Petistas
Paulo Heineck, militante do PT

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